sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Bullying nosso de cada dia.

A psicologia é uma ciência nova, pouco mais de cem anos. Talvez por isso só agora, em tempos atuais, é que fenômenos até então considerados “naturais” pelo censo comum, com o avanço dos conhecimentos da psicologia, passaram a ser tratados de outra maneira. O bullying é um exemplo desta mudança.
E a mudança no entendimento do bullying foi brusca. Conforme iam se concluindo estudos psicológicos sobre o bullying e suas conseqüências no meio social, o bullying, ou brincadeiras agressivas do passado, consideradas “normais”, iam se transformando em comportamento disfuncional, imoral, até ser considerado ilegal. Hoje, para a legislação brasileira, bullying é crime, imputável como assédio moral e pode dar cadeia. Uma baita transformação, não?!
Mas o bullying é sorrateiro. Só é bruto nas conseqüências. Na formação, é um processo sutil, sem culpas ou culpados. Difícil de ser enquadrado na legislação.
Nas clínicas psicológicas, quando já há vítimas, é que percebemos porque da dificuldade de enquadrar o bullying e seus atores na legislação. Para ser considerado crime, o bullying (ou assédio moral) deve apresentar três características: 1 – O desequilíbrio de poder entre vítima e agressor, 2 – A intenção do agressor e 3 – Repetição do ato.
São poucas as vítimas de um bullying assim, direto e perceptível. Na maioria dos casos, o desequilíbrio de poder é apenas psicológico, podendo ser um menor aterrorizando um maior, um pobre contra um rico ou vice-versa. Depois, a intenção dos atores, quando é comprovada, é “inconsciente”, “sem querer”, “coisa de adolescente”. E, por fim, a repetição, no “bullying nosso do cada dia”, não quer dizer muito. Na matemática clínica do bullying, vários atos agressivos de um só estudante para outro, é igual ou menos danoso do que um só ato cometido por vários estudantes contra um mesmo estudante.
Talvez por isso, o número de vítimas de bullying que alcançam a justiça para reparar seus danos seja tão baixo, perto do número de crianças, adolescentes e adultos que sofrem ou que sofreram com o bullying, e vão buscar em clínicas psicológicas ou psiquiátricas, sua reparação.
O bullying é sorrateiro e danoso a saúde física e psicológica de qualquer um, vítima, agressor e espectador. E, para combatê-lo, além lei, é importante uma análise aplicada do que fazemos, deixamos de fazer e no que admitimos que façam perto da gente.
O bullying se estabelece na vítima, numa seqüência de ocorrências pessoais familiares e escolares, que na maioria das vezes, os atores agem sem consciência da sua importância no ato. Num processo sutil. É uma piada do colega que você repercute, uma agressão a um colega que você assiste imóvel, uma implicância com o jeito de uma pessoa ou outra, um comentário crítico e depreciativo feito no ambiente familiar, etc. Cenas assim são suficientes para acuar ainda mais vítimas, e dar maior poder e liberdade a agressores.
A psicologia, essa ciência nova, confirmou através de estudos do comportamento, que "os homens agem sobre o mundo e o modificam e, por sua vez, são modificados pelas conseqüências de sua ação" (B.F.Skinner). Quer dizer que o que fazemos ou deixamos de fazer, pode mudar o mundo a nossa volta, de forma positiva ou negativa, e essa mudança muda a gente, para melhor ou para pior.
Um ciclo interminável, que passa também por nós e pelo mundo que queremos construir a nossa volta.
Desta forma, se queremos acabar com o bullying, além de denunciarmos aos pais, à escola e, quando possível e necessário, até à polícia, devemos ficar atentos aos nossos próprios comportamentos e sempre cientes de que “Gentileza gera um mundo mais gentil”; Ignorância gera um mundo mais ... .
Que mundo você quer viver amanhã? Pratique-o hoje.
Diga NÃO ao bullying, à violência, à intolerância e à agressão no mundo que você constrói no dia-a-dia.
Victor Hugo Rios Werneck - Psicólogo CPR 01/10.916
Brasília, agosto de 2011

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